A coisa toda é burocrática? Com certeza! Os processos poderiam ser melhores, mais eficientes? Claro! As leis não ajudam tanto como deveriam? Pode até ser… Mas e aí? O que você faz para tornar o resultado melhor APESAR disso?

Fui intimado no começo do mês a comparecer a delegacia para prestar declarações sobre uma tentativa de assalto que ocorreu no começo de 2015. Assinada pelo Vladimir e com letras maiores no final dizendo: NÃO FALTAR. SUJEITO ÀS PENAS DA LEI.

Sujeito às penas da lei

Pois bem, fui lá pontualmente às 8:30 da manhã de uma terça-feira, falei com um senhor na entrada que disse que eu iria falar com o Vladimir e que ele “já estava vindo”. Fui para a famigerada sala de espera.

Na tentativa de compensar o tempo de estar ali, fiquei lendo alguns textos e resolvendo algumas pendências menores pelo celular. Foi-se meia hora. O senhor que havia me recepcionado voltou a me avisar que o Vladimir “já estava vindo”.

Resumindo, o mesmo continuou pela próxima meia hora, pessoas passando de um lado para outro, até que o mesmo senhor me viu ainda aguardando e foi de fato falar com o Vladimir, que enfim me chamou.

Não que tenha sido uma surpresa, mas o Vladimir não sabia do que se tratava. Pediu para ler a intimação para ver o número do processo e descobrir do que iríamos conversar. Nos próximos 15 minutos falei o que eu me lembrava do caso, assinei e fui embora. Uma hora e vinte minutos depois de ter chegado.


Dito isso, vamos ao que interessa. Depois da espera, minha expressão já não era a mesma da hora que eu cheguei. Creio que na tentativa de amenizar a situação, o Vladimir falou:

"Ninguém me disse que você estava aqui. A gente atende muita gente durante o dia e não sabe qual é o próximo."

Tem tanto comentário sobre essa fala dele que fica difícil decidir por onde começar:

Alguém precisa avisar que eu estou ali? Eu recebi uma intimação com data e hora marcada. Eu estava sujeito às penas da lei (aparentemente, ele não).

Se ele estava ali sem atender ninguém e sempre tem gente para atender, não seria prudente verificar se alguém o aguardava na sala de espera?

Ele não tem uma agenda com esse tipo de compromisso? A intimação estava assinada. Então, pelo menos teoricamente, ele sabia que estava agendado.

“Ah, mas você deveria ter brigado. Eu teria xingado todo mundo depois da primeira meia hora.”

É uma solução razoavelmente comum e bem eficiente por aqui. Provavelmente teria dado certo.

O problema é que eu sou paciente (até demais) e procuro manter o controle nesse tipo de situação. Normalmente, se é a espera de um médico, restaurante ou qualquer outro tipo de empresa eu resolvo não voltando ali. Também nunca passei por uma situação de espera por um atendimento médico urgente, nesse caso eu provavelmente não manteria a mesma calma.

A solução para esse tipo de problema não é tão complexa. Não exige o Vladimir ser proativo, não exige uma solução mirabolante com um sistema integrado, não exige o Vladimir trabalhar mais, não envolve outras pessoas. Não exige uma organização sistemática e neurótica. Uma simples AGENDA DE PAPEL resolveria. O Vladimir saberia que teria uma pessoa o aguardando às 8:30.

O que muda para o Vladimir ter esse tipo de organização? Muda que ele precisará anotar sempre que assinar uma intimação e terá que olhar todos os dias de manhã quais são os compromissos. Mas para o serviço dele, de forma geral, não muda nada. 

Ele vai continuar entrando e saindo no mesmo horário e atendendo as pessoas do mesmo jeito, independentemente da hora, ordem ou tempo que elas estão esperando. Então, acho que ele escolhe não se organizar. Se ele vai ter que fazer aquilo do mesmo jeito, por que ele precisaria se preocupar com o resto do mundo?


Esse foi UM incidente. Mas imagino que todos já passaram pelo menos uma vez por algo parecido, uma espera desnecessariamente LONGA por falta de organização ou descaso do aguardado. Assim seguimos, desperdiçando tempo com toda a burocracia e processos mal elaborados (tanto da parte pública quanto das empresas privadas) e pessoas despreocupadas com o tempo das outras porque não há interesse algum em ver tudo fluir melhor.

Mas é muito fácil vir aqui e julgar o Vladimir, ou qualquer outro que tenha “roubado” nosso precioso tempo. E quando a situação está invertida? E quando as pessoas dependem de nós e da nossa organização? Nem sempre fazemos nosso melhor quando o resultado não nos interessa diretamente.

Qual a sua responsabilidade na desordem da qual você se queixa?
Sigmund Freud

Pode ser que você esteja roubando tempo dos seus colegas de trabalho ou amigos e nem perceba. Imagine: 

  • Todas as vezes que você interrompe alguém no trabalho para fazer um comentário ou enviar uma mensagem desnecessária.
  • Todas as vezes que você sai da sua mesa para levar um documento para outro lugar sendo que você poderia esperar e fazer tudo de uma vez. 
  • Todas as vezes que você se atrasa. 
  • Todas as vezes que você esquece de algo. 
  • Todas as vezes que você encontra uma solução para um problema mas não se empenha em botar ela em prática porque vai dar mais trabalho.

Como na maioria das situações, é difícil exigir algo de alguém sendo que nós mesmos não o fazemos. O primeiro passo será sempre corrigir o nosso comportamento antes de pedir que outros o façam. Lógico que nem todos terão o mesmo empenho para que as coisas funcionem da melhor forma possível, mas isso não deve impedir você de fazer o seu melhor sempre.

Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.
Madre Teresa de Calcutá