Se nunca tentou, observe na próxima vez que tiver que decidir algo: quantas coisas acontecem simultaneamente em sua mente? Quantas questões você responde antes de ter a solução final?

Começa quando a situação de escolha ou questão é apresentada. Você começa a “puxar” a maior quantidade possível de informações na memória e tenta relacionar e organizar tudo até que algum dos resultados “faça sentido” suficiente. Quando o tempo é curto o processo fica ainda mais crítico. 

É possível que nem todos os dados sejam analisados a tempo, mas como você precisa decidir acaba escolhendo o que a INTUIÇÃO manda. E isso vale para todo o tipo de decisão, desde onde jantar no final de semana até a decisão de trocar de emprego.

O processo é bem parecido para todos, o que muda são as informações que cada um tem e a facilidade de acessá-las e analisá-las de forma rápida e independente do ambiente externo. Por exemplo, pressão, raiva, medo, insegurança, ansiedade. 

Como resultado disso, cada ser humano possui uma resposta diferente para cada estímulo. Um universo próprio que segue um conjunto de regras e leis bem específico.

Pontos de vista diferentes

Além de tudo isso, tem ainda o efeito dos vieses cognitivos. Resumidamente, são tendências de pensar e julgar de certas maneiras que podem levar a decisões equivocadas, até mesmo irracionais. Há uma lista de vieses em constante crescimento que é estudada pela psicologia e outros estudos comportamentais, principalmente na área de economia.

Alguns exemplos interessantes:

  • Viés da confirmação: tendência de interpretar fatos e informações de forma que eles confirmem conceitos e crenças próprias.
  • Ancoragem: tendência a confiar demais (ancorar-se) em uma referência do passado ou em uma parte da informação na hora de tomar decisões. Pode ser visto também como a dificuldade em se afastar da influência de uma primeira impressão.
  • Efeito adesão: tendência de fazer ou acreditar em algo porque muitos o fazem.
  • Efeito Backfire: quando as pessoas refutam evidências pelo fortalecimento em suas crenças. Basicamente, ignorar um fato para que sua verdade continue verdade.
  • Essencialismo: categorizar pessoas e coisas de acordo com sua natureza essencial, apesar das variações individuais.

Mas são tão ruins assim esses vieses?

PENSAR é custoso, cansativo, precisa de atenção, leva TEMPO. Pegar um ATALHO é mais fácil, ainda mais quando todas as vezes que pensamos acabamos chegando praticamente às mesmas conclusões. 

Sendo assim, escolhemos ir direto ao ponto final usando nosso HISTÓRICO. Situações e comportamentos parecidos com outros que já vivenciamos (ou ouvimos falar) e a partir deles escolhemos a solução final, ao invés de passar por todo o processo de busca e análise de informações novamente.

Observando os tipos de vieses e as alterações na percepção que eles podem gerar é possível identificar alguns padrões. Temos essa tendência de procurar sempre um caminho para que as coisas se relacionem e façam sentido. Acontece que nem sempre as informações que temos levam a isso. É aí que a mente começa a cortar caminho e preencher essas lacunas com dados que ACHAMOS ser verdadeiros. 

É como se fosse um jogo de conectar os pontos, a mente vai ligando uma coisa na outra de forma que a conclusão final seja verdadeira (pelo menos na nossa cabeça). Mesmo que para isso ela tenha que deixar de lado algumas evidências ou criar alguns pequenos “absurdos”.

Outro fato é que somos diariamente bombardeados com informações. Sejam conteúdos técnicos nos estudos ou no trabalho, conversas, informações visuais, textos e vídeos pela internet, redes sociais. Mas nem todas essas informações são guardadas definitivamente na memória, inclusive, a maioria delas não existirá mais nos próximos dias. 

E quem filtra isso? Quem escolhe o que fica e o que sai da memória? Novamente é a nossa vontade de fazer com que as coisas façam sentido. Nossa prioridade é lembrar somente daquilo que julgamos importante, o que mais nos chama atenção, os fatos que reiteram nossa opinião. 

Existe a tendência de lembrar mais das falhas do que dos acertos, e de generalizar algumas exceções de forma que se tornem regras. Enfim, lembramos majoritariamente do que faz os pontos se conectarem.

E quando já não é mais possível diferenciar o que é REAL e o que é JULGAMENTO da mente? Quando uma nova informação é FALSA mas nosso filtro mental a classifica como VERDADEIRA. Como saber se a decisão sendo tomada é LIVRE ou se está CONTAMINADA por alguma tendência?

Por mais informações que você tenha antes de tomar uma decisão, o fato é que sempre será uma parte pequena comparada ao conjunto total de informações. Sempre haverá muitos espaços vazios para serem preenchidos. O ponto crítico é saber quais decisões podem usar esses ATALHOS e quais não podem, em hipótese alguma.

Escolher um lugar ruim para jantar, com certeza, não terá as mesmas consequências de escolher o candidato errado nas próximas eleições.

E como não ser vítima disso?

Primeiramente, você SEMPRE estará sujeito aos vieses. Faz parte da natureza humana. Além disso, nem sempre haverá informações, tempo ou estado emocional favoráveis.

Sabendo que o julgamento pode estar contaminado e você está diante de uma decisão importante: QUESTIONE! Duvide daquela velha opinião formada sobre tudo.

Observe as informações que sua mente está apresentando e procure argumentar contra elas. Pesquise conteúdos que mostrem outros pontos de vista. Esses argumentos fazem sentido pra você?

Veja se o ambiente externo está influenciando. Imagine a decisão em outros momentos, com outras pessoas. Seria a mesma? O que mudaria?

Analise o máximo de opções. Apesar da tentação de argumentar somente a favor da solução preferida, faça uma lista com as opções conflitantes e enumere vantagens e desvantagens de cada uma.

Fazendo a conta final

  1. Os vieses estarão sempre lá para desviar a rota. Aceite e considere isso!
  2. As condições nem sempre serão as melhores possíveis: informação, tempo, espírito.
  3. Toda decisão entrará para o histórico. Um mau julgamento hoje será propagado por muitas outras decisões.

Apesar disso, sempre há espaço para evolução. Por que não minimizar as consequências dos atalhos? Estar mais bem preparado:

  1. Abasteça sua mente com informações úteis e sensatas (por mais que a sensatez seja subjetiva). Mantenha seu filtro de informações sempre atualizado, não deixe de ver outros pontos de vista e tentar encontrar razão neles também.
  2. Sempre que possível, percorra todo o caminho. Evite escolher sempre o mais fácil. Ao contrário, opte pela rota que trará mais conhecimento. Pode parecer desperdício de esforço, mas você estará treinando sua mente para escolhas mais difíceis. E acredite, não é algo que você percebe no curto prazo. Somente lá na frente poderá olhar para trás e ver como fez diferença escolher o caminho das curvas.
  3. Nunca perca a calma. Bem mais fácil falar do que fazer, mas mesmo assim… evite decisões quando seu espírito não estiver em paz.
  4. Não tenha compromisso com o erro. É possível desfazer alguma injustiça? Pode tentar de novo? Tente, volte atrás, peça desculpa. Isso também vai entrar no histórico.

Muitas das verdades às quais nos apegamos dependem muito do nosso ponto de vista.
Obi-Wan Kenobi